domingo, 16 de fevereiro de 2014

Flagrante mostra correria de idosos para pegar remédios de graça em SP


O Bom Dia Brasil mostra um absurdo no atendimento de saúde na maior cidade do país. Para receber os remédios de alto custo distribuídos de graça pelo estado, idosos passam a madrugada na calçada do posto de saúde.

E a fila é só o começo do problema. A situação ainda piora quando os portões são abertos.

Parece um “estouro de boiada”, um atropelo. E os mais jovens que chegam depois deixam os idosos para trás. O repórter Renato Biazzi acompanhou esse drama desde a madrugada.

O primeiro a chegar foi o Seu Osvaldo, atrás de remédios para o coração: “Cheguei às 2h30”.

Seu Antônio vem logo atrás. Uma vez por mês, ele passa por esse sofrimento. “Isso porque o tempo hoje está bom, gostoso. Houve época de chuva e vento, então a gente se envolve com um saco de lixo aqui assim, para poder não se molhar”, conta o aposentado Antônio Lara.

A maioria dessas pessoas vem em busca de remédios de alto custo, distribuídos de graça pela Secretaria Estadual de Saúde. Eles madrugam para evitar a demora que, segundo dizem, é muito maior depois que o ambulatório abre.

“Aquele povo que chegou 7h, 8h, vai sair meio-dia, 13h”, diz Antônio.

Mas madrugar na fila não é garantia de ser atendido antes. Principalmente para os mais velhos.

“Antigamente eles davam senha aqui, era mais tranquilo. Hoje em dia, você vem de manhã, os caras que cortam a fila, que correm e fazem a gente correr também, estão dormindo”, conta o aposentado José Alves da Silva. 

“Aglomera um monte de pessoas aí, correm na frente. Eu tenho 74 anos, não tenho condições de correr. Aí chega lá e você não tem o atendimento que precisava”, lamenta o aposentado Antenor Borges De Oliveira.

Quando o dia clareia, já são mais de 150 pessoas à espera. A aposentada Elenice Amaro sabe que vai ter dificuldades. “Na hora de entrar é bagunça. Não tem uma pessoa responsável para organizar todo mundo que está na fila”, reclama.

As pessoas falam com conhecimento de causa. Quando o portão do ambulatório abre, conta mais a velocidade dos pacientes do que a ordem de chegada do lado de fora. Imagens mostram o atropelo, pessoas que tinham acabado de chegar passando na frente de outras que chegaram na fila há muito tempo – sem nenhuma organização.

O auxiliar técnico da reportagem gravou com o telefone celular a correria até os guichês para a retirada de senhas. Dentro, alguns se revoltam com a desorganização.

Um dos pacientes bate-boca com os seguranças.

Quem recebe as primeiras senhas leva de meia hora a uma hora e meia para levar os remédios. “Hoje foi tranquilo porque você está aí, mas não é assim, as coisas não funcionam assim”, revela um paciente à reportagem.

Quem chega depois que o ambulatório já abriu leva muito mais tempo, com a Dona Risoleta: "Eu cheguei aqui era meio-dia, mas tem pessoas que chegaram aqui eram 7h30 da manhã. Então eu acho, assim, um absurdo".

Idosos como o Seu Pietro, de 80 anos, também não são poupados. Ele já ia para seis horas de espera. "Eu estou sem almoçar. Para pegar o remédio. Todos os meses é essa briga”, conta o idoso.

E alguns pacientes nem conseguem todos os medicamentos. Como o Seu José, que esperou duas horas e meia e saiu sem um dos remédios para o glaucoma. “Sem esse medicamento a pressão pode alterar e pode causar um acidente, vai desgastando o nervo ótico. Eu me sinto constrangido com os governantes que a gente tem aí”, diz o aposentado José dos Santos.

Sobre os problemas, a reportagem ouviu o diretor técnico do Ambulatório Médico de Especialidades Maria Zélia: “Ocorre que a demanda supera a capacidade operacional da unidade. Hoje o tempo de espera é em torno de duas horas a três horas e meia. Nós acreditamos que em até três meses nós consigamos retirar desse universo de 67 mil atendimentos, aproximadamente 20 mil pacientes que receberiam os seus medicamentos nas suas casas”, afirmou Luiz Fernando Haigag Djabraian.

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