terça-feira, 20 de maio de 2014

O mito da mudança nas pesquisas eleitorais. Oposição tem só 25% do 'mudancismo'

voto


Os candidatos de oposição, em dificuldades para subir nas pesquisas de intenções de votos, buscam oxigênio no que chamam "sentimento de mudança". E institutos de pesquisas de opinião passaram a dirigir perguntas para dar subsídios a este argumento do interesse dos oposicionistas. Porém, as perguntas dirigidas mais fogem do que buscam identificar qual é o real sentimento de mudança.
Se for para levar a sério os números apurados na última pesquisa eleitoral do Ibope, o tamanho do sentimento de mudança em direção à oposição fica em apenas 25%.
O Ibope fez a seguinte combinação de perguntas:
Pergunta 15) Pensando no próximo presidente, o (a) sr (a) gostaria que ele:
  • .. Mudasse totalmente o governo do país (30%)
    .. Mantivesse só alguns programas, mas mudasse muita coisa (38%)
    .. Fizesse poucas mudanças e desse continuidade para muita coisa (20%)
    .. Desse total continuidade ao governo atual (8%)
    .. Não sabe/ Não respondeu (3%)

(Somente para quem deseja mudança na próxima eleição):
Pergunta 17) Ainda falando sobre mudanças no governo, o (a) sr (a) deseja mudanças no governo, mas com Dilma na presidência ou mudanças no governo com outro presidente no lugar de Dilma?
  • .. Mudanças no governo, mas com Dilma na Presidência (25%)
  • .. Mudanças no governo, com outro presidente no lugar de Dilma (64%) 
    .. Não sabe/ Não respondeu (11%)

O número de 64% que "querem mudanças no governo, com outro presidente no lugar de Dilma", impressiona, e é usado por oposicionistas, sejam candidatos para produzir alento, sejam jornalistas para produzir manchetes, mas esconde um truque, porque não são 64% do total dos pesquisados (amostragem do total do eleitorado).
A pergunta 15 foi aplicada a todos os 2.002 pesquisados. A pergunta 17 foi aplicada somente aos 1.369 pesquisados que responderam as duas primeiras opções da 15. Logo, quem respondeu querer outro presidente no lugar de Dilma corresponde a 44% do eleitorado, praticamente o mesmo tanto de votos que o candidato José Serra (PSDB-SP) teve no segundo turno em 2010.
Desses 44% que dizem não querer Dilma, 19% não querem ninguém da oposição, pois declaram que irão votar em branco ou nulo. Então sobram apenas 25% do voto de mudança para a oposição. Significa que a oposição, por ora, encolheu em relação a 2010.
Por outro lado, somando-se os 25% dos 1.369 pesquisados que querem muita mudança e dizem querer a continuidade de Dilma, com os que querem "total continuidade ao governo atual" ou pequenas mudanças, chega-se a 44% do eleitorado.
A leitura dos números da pesquisa sem truques dá cerca de 44% pendendo para a continuidade do governo Dilma, mesmo querendo muita ou pouca mudança, contra 25% pendendo para a oposição. O resto, tirando os indecisos, é o eleitorado seduzido pelo sentimento anti-política inclinado a anular o voto.
Além disso, na mesma pesquisa Ibope de abril, a primeira pergunta foi:
1) Como o (a) sr (a) diria que se sente com relação à vida que vem levando hoje? O(A) sr (a) está:
  • .. Muito satisfeito (9%)
  • .. Satisfeito (70%)
  • .. Insatisfeito (19%)
  • .. Muito insatisfeito (2%)
  • .. Não sabe/ Não respondeu (1%)

Com 79% do eleitorado satisfeito ou muito satisfeito com a vida que vem levando, torna-se mais fácil para o governo do que para a oposição capturar os votos que ainda estão indecisos ou descontentes. O eleitor que vota pragmaticamente, com a mão no bolso, tende a votar pensando em preservar seu bem-estar.
Tudo isso desmistifica o suposto "sentimento de mudança" representar novos ventos para a oposição.
Se perguntar a qualquer mãe ou pai se quer mudança no desempenho de seu filho na escola, a menos que sejam pais dos primeiros alunos da classe, todos responderão sim. Mas nenhuma mãe ou pai quer mudar de filho.
Todo mundo quer mudança para reformar a casa, para trocar o aluguel pela moradia própria, para trocar um carro usado por um novo, para perder uns quilos a mais, para deixar o sedentarismo, para subir na carreira profissional, até para ganhar na Mega-Sena, mas poucos estão dispostos a decisões de mudanças radicais, como abandonar o emprego para aventurar-se em algo incerto, ou trocar o que conquistaram na vida para recomeçar tudo de novo.
Até nos casamentos, todo mundo quer alguma mudança para melhor, seja no relacionamento, seja na prosperidade familiar, mas a maioria não quer se separar, pelo menos nos casamentos harmônicos. Mas se uma pesquisa que garanta o anonimato, fizer pergunta gaiata perguntando hipoteticamente à mulher se trocaria o maridão por um galã da TV, muitas responderiam que sim, sem qualquer compromisso com a realidade e sem qualquer intenção real de separar-se. Daí seria absurdo tal pesquisa vir com a manchete: "Maioria de casais estáveis quer trocar de cônjuge".
O Ibope está com nova pesquisa sobre a corrida presidencial em campo, que deve ser publicada nos próximos dias. As mesmas perguntas foram feitas. Vamos ver quais serão as manchetes "mudancistas".

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