terça-feira, 30 de abril de 2013

homenagem ao trabalhadores brasileiros






As empresas industriais que trabalham na manufatura de peças de vestuário, produtos em couro, sapatos etc. empregam um grande número de homens e mulheres que trabalham na operação de máquinas de costura.
Tradicionalmente, alguns setores da indústria são ocupados por uma boa porcentagem de mulheres. Este é o caso das indústrias de vestuário e calçados (65%), farmacêutica e veterinária (54%), de fumo (53%), perfumaria e sabonete (33%) (Ribeiro et al. 1984). A incorporação do trabalho da mulher na indústria é bem maior nas regiões desenvolvidas do Brasil, alcançando em São Paulo o dobro da média nacional, isto é, em cada cem mulheres que trabalham, trinta estão na indústria (Ribeiro et al. 1984).
A operação de máquinas de costura requer o uso repetitivo e coordenado do tronco, extremidades superiores e inferiores das operárias que trabalham em postura sentada prolongada (Nag et al. 1992).
A postura de trabalho representa principalmente um meio para desempenhar a atividade. As posturas e os movimentos de trabalho são determinados pelo espaço físico no qual o corpo e, principalmente, seus segmentos estão localizados, pelas características das informações a serem captadas e pelas ações a serem desempenhadas no espaço (Barreira, 1989, 1994; Laville, 1977).
As trabalhadoras da indústria de confecção, principalmente no setor de costura, desenvolvem suas tarefas na postura sentada. Para costurar, muitas atividades manuais são executadas e estas exigem um acompanhamento visual, isso significa que o tronco e a cabeça ficam inclinados para frente. O pescoço e as costas ficam submetidos a tensões mantidas por longos períodos, o que poderá acarretar dores. O dorso pode ser submetido também a tensões, quando for necessário girar o corpo, estando o trabalhador em um assento fixo (Dul & Weerdmeester, 1995).
A coluna vertebral pode sofrer uma série de alterações nas suas estruturas constituintes em virtude de posturas e atividades motoras inadequadas adotadas pelo trabalhador diante da exigência de sua tarefa (Calliet, 1975; Knoplich, 1983, apud Barreira). De acordo com Grandjean (1998) e Mont'alvão (1994), na postura sentada ocorre um afrouxamento dos músculos abdominais que será prejudicial aos órgãos de digestão e respiração.
Em um estudo, Nag et al. (1992) relatam que um trabalho de costura por longo período tem uma carga cumulativa nas estruturas músculo-esqueléticas, incluindo a coluna vertebral e refletindo na forma de grande prevalência de desconforto e dor em partes diferentes do corpo. Além dos problemas com o disco intervertebral, o estudo feito pelos autores evidenciou que 68% das cento e sete mulheres estudadas reclamavam de dores nas costas (lombalgias persistentes e insuportáveis). Outras 35% reclamavam de dores de cabeça, desconforto nos músculos abdominais, esforço dos olhos e edema nos pés devido ao acúmulo de fluidos corporais.
Punnett et al. (1985) também relatam que trabalhadores em certas tarefas de costura, especialmente aqueles que colocam o forro dentro das jaquetas, têm uma maior prevalência de dores persistentes do que os trabalhadores que realizam outras tarefas. Kaergaard et al. (2000) citam que o trabalho na indústria da confecção envolve monotonia, tarefas altamente repetitivas realizadas em uma postura sentada com a região superior das costas curvada e a cabeça dirigida para a máquina de costura e, além disso, exige um alto grau de concentração e acurácia.

Objetivo
Este trabalho tem como objetivo geral verificar os desconfortos que o trabalho em postura sentada pode trazer às trabalhadoras na indústria da confecção, com enfoque no trabalho das costureiras. E como objetivo específico,o de identificar as cargas de trabalho e os fatores de riscos presentes na postura sentada mantida por longos períodos, que podem levar ao acometimento de membros superiores, troncos e membros inferiores.

Materiais e métodos
Trata-se de uma pesquisa descritiva em que o método tem como base a análise ergonômica do trabalho. A ergonomia estuda vários aspectos do trabalho, desde questões de posturas e movimentos corporais a fatores ambientais que interferem nas condições de trabalho e congrega vários conhecimentos relevantes de diversas áreas do conhecimento humano (Queiroz, 1998).
A ergonomia é definida como o estudo da adaptação do trabalho ao ser humano, entendendo o trabalho com uma concepção mais ampla, a qual engloba o estudo de toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o ser humano e seu trabalho (lida, 1998).
Foi realizada análise ergonômica do trabalho na postura sentada em uma indústria de confecção do município de Santo André, Brasil. O posto estudado se incluía na etapa de colocação de elástico nas pernas das calcinhas. A máquina utilizada para esta atividade é a de "três pontos".
Foi observada a realização da tarefa real, enfocando as posturas, os movimentos corporais e os fatores ambientais que interferem diretamente no trabalho.
Foram também utilizados um roteiro de observação, traduzido e adaptado do Worksafe Austrália (1992) e de McAtamney e Corlett (1999) por Maciel (1998), utilizado por Queiroz (1998), e um questionário elaborado a partir de um conhecimento prévio. O questionário foi respondido por nove costureiras a fim de colher dados sobre o perfil das trabalhadoras, conhecer suas relações de trabalho e sua situação de saúde.

Resultados
Caracterização da Indústria
O estudo foi realizado em uma indústria de pequeno porte de confecção de calcinhas e sutiãs situada na região de Santo André desde 1992, e desde 1999 encontra-se nas instalações atuais.
Hoje a indústria está com produção fixa e abarca uma pequena fatia do mercado de consumo comum das indústrias de pequeno e médio porte desse tipo de atividade.
Na indústria, as trabalhadoras nos postos similares ao analisado são oito, com idade entre 25 e 39 anos. O tempo de trabalho das trabalhadoras está entre um e três anos.
Apenas uma trabalhadora está há quatro anos na indústria.
O Processo de produção
A indústria é composta por seis setores: (1) administrativo e financeiro (inclui compras e vendas), (2) corte, (3) costura, (4) controle de qualidade, (5) expedição e (6) limpeza.
No setor de costura, são realizadas as tarefas de costurar as peças de diferentes tecidos (malha, lycra), operando máquinas do tipo goloneira, zig zag, overloque, traveti. Cada costureira trabalha na sua máquina e não há rodízio. Duas trabalhadoras, das trinta que trabalham nesse setor, têm as seguintes tarefas: pegam linhas, levam as peças para o controle de qualidade e "fazem o que for preciso" para que as costureiras não levantem durante o trabalho. Assim, o trabalho das costureiras é realizado na postura sentada durante toda a jornada de trabalho.
A organização da produção ocorre da seguinte maneira: quando o tecido chega na fábrica, é aberto na mesa de corte por doze horas para evitar que encolha, procedimento denominado enfestamento. Após, o tecido é riscado e cortado e a próxima etapa é o processo de costura, sendo a "produção" propriamente dita. As costureiras das máquinas overloque começam a trabalhar na montagem das peças.
Após a montagem, a peça vai para as elastiqueiras, que trabalham nas máquinas três pontos, para serem colocados elásticos nas pernas e na cintura das calcinhas já montadas. Algumas peças precisam passar na máquina traveti para serem reforçadas (por exemplo, sutiã). Colocado o elástico, as peças são encaminhadas para o controle de qualidade e só então são encaminhadas para o setor de expedição e embaladas individualmente.
A Organização do trabalho
A direção da indústria está representada pelos dois sócios. Os trabalhadores somam quarenta e três funcionários com faixa etária entre 17 e 48 anos, sendo dois trabalhadores do sexo masculino. Pode-se observar que, seguindo uma característica da indústria de confecção, prevalece a presença do sexo feminino no processo de produção.
A produção conta com quinze modelos de calcinha de algodão (liso, bordado e rendado) e cotton. A produção é de aproximadamente 1800 peças/dia, ou seja, uma produção de 36 mil peças/mês. O turno de trabalho é das 7h às 16h48min, de segunda-feira à sexta-feira. Existem três pausas formais durante a jornada: café da manhã (das 9h às 9h10min), almoço (das 12h às 13h) e café da tarde (das 15h às 15h10min).
O questionário respondido pelas trabalhadoras mostrou que todas acreditam que a taxa de produção está dentro de suas capacidades, que elas têm controle sobre o ritmo de trabalho e que a carga de trabalho é determinada pelos pedidos, sendo que, quando há menos pedido, o dia fica mais folgado e, quando há mais pedidos, o dia fica mais puxado.

O Posto estudado
Aspectos físicos e ambiente de trabalho
O posto está localizado em um espaço amplo, onde as máquinas estão dispostas uma atrás da outra, formando duas fileiras. O piso ao redor da máquina é de cerâmica, ao que nosso ver não ocasiona nenhum risco a saúde das trabalhadoras. A iluminação do ambiente é realizada de forma artificial e natural. Segundo as respostas que as trabalhadoras deram ao questionário, cinco estão satisfeitas com a iluminação e quatro concordam que o ambiente é escuro.
O ruído das máquinas é intenso e contínuo e em nenhum momento cessam, mas, de acordo com a resposta que as trabalhadoras deram ao questionário, seis consideram que o ruído não incomoda e três, que incomoda. Ao nosso ver, o ruído causa desconforto acústico.
A ventilação é realizada de forma artificial e natural. A artificial é realizada por três ventiladores, que são ligados somente em tempo de muito calor, e a natural circula por sete janelas. De acordo com a resposta das trabalhadoras, para três delas a ventilação é suficiente e para seis o ambiente é muito quente.

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