quarta-feira, 12 de maio de 2021

O grande amor e o comendador



 

Na sequência dos bastidores que venho postando nesta coluna, desde segunda-feira passada, consequência da crise no Grupo João Santos, trago, hoje, um capítulo à parte envolvendo a relação entre o empresário Fernando Santos, que os poderosos de Pernambuco tratavam e reverenciavam como o “Doutor Fernando”, e a família do “comendador” Osvaldo Rabelo, poderoso que atraia verdadeiro séquito de deputados, quase todos os dias de sessões, ao redor dele, em famosos almoços em seu escritório político.

A história começa em Goiana, na Mata Norte, onde o velho João Santos vira usineiro e em seguida ergue a primeira cimenteira do que viria mais tarde a se transformar num grande império do cimento no Brasil, com destaque para Pernambuco. Jovem, fluente no trato, Osvaldo Rabelo logo passa a ser o braço direito do velho na política, com influência em outras áreas, entre as quais a polícia.

Mais tarde, é integrado ao grupo como o transportador-mor do cimento do grupo, dando-lhe poder financeiro. Houve a construção de uma união sistêmica entre eles. Fernando Santos era praticamente um filho querido do velho Osvaldão ou “o comendador”, como era tratado, e o seu filho Osvaldinho, ex-prefeito de Goiana, mais que um irmão de Fernando. A família Rabelo logo ganhou a máxima confiança a ponto de se tornar operadora geral da família Santos.

Fazia desde a proteção policial, passando pela defesa dos interesses políticos ao montar a maior bancada favorável aos interesses do Grupo na Assembleia legislativa, verdadeira barreira protetora para toda a família no início e depois como o “capo di tutti capi” de Fernando. Osvaldão tinha uma fidelidade canina, sem limite, a Fernando.

Mas ocorreu um drama familiar arrasador, que praticamente destruiu a saúde “espiritual” do “comendador”. Fernando havia vivenciado sua segunda separação, dessa vez de Najda Lang Cauás, belíssima mulher que enfeitiçou o coração e a vida de Fernando, a ponto de ele realizar as mais alucinantes loucuras para tentar saciar as vontades incontroláveis de uma “femme fatale”. Fernando estava emocionalmente traumatizado, abatido, deprimido.

Foi quando seu grande amigo-irmão Osvaldinho o acolhe, recebendo-o na casa da família com o mais verdadeiro carinho fraterno. Eis que algo terrível aconteceu: Fernando se apaixona pela então esposa e mãe dos três filhos de Osvaldinho, Lena Baptista Neves, e a “rouba” do “amigo-irmão”. Aí ocorre o que parecia impossível: o rompimento dos Rabelos com os Santos. Fernando então força todos os filhos de Osvaldinho a adotarem o seu nome de família, Pereira dos Santos. Chegou a tal ponto que fez o casamento de uma das “filhas”, entrando ela no altar e proibindo o pai verdadeiro, Osvaldinho, de sequer participar da cerimônia.

A loucura de Fernando por Lena se tornou tão extrema que seus novos “filhos” assumiram um papel central e decisivo no grupo após a morte do patriarca João Santos. Ana Patrícia Rabelo “Pereira dos Santos” vira, num passe de mágica, a toda poderosa, executiva número um do grupo João Santos, como se pode notar no relatório da operação da Polícia Federal, onde ela aponta como líder junto com o “pai” Fernando e a mãe Lena.

O poder da paixão – Doutor Fernando era apaixonado de forma tão cega pela segunda esposa que chegava a fazer grandes loucuras. Nadja decidiu, por exemplo, “tomar conta” do parque de exposição de animais do Cordeiro, algo inusitado e surpreendente. Fernando foi ao então governador Joaquim Francisco, em Palácio, exigir as devidas providências. O imbróglio demandou o envio de um projeto à Alepe alterando a legislação que regia a gestão do parque, para que uma entidade, controlada por Nadja, assumisse o controle da área de propriedade do estado. Só que, por ironia do destino, logo em seguida ocorreu a separação traumática e Fernando, prontamente, ordenou que cancelar tudo. Um vexame!

Compra de praia – Certo dia, bateu uma vontade louca em Nadja de virar dona de uma praia privada em Pernambuco. Fernando não titubeou e agiu rápido. Comprou, literalmente, a Praia da Gavoa, ao lado da Ilha do Avião, nas proximidades de Itamaracá, cantada em prosa e verso pelo rei Reginaldo Rossi. Depois, ela soube usar o seu poder junto ao marido apaixonado para comprar fazendas, joias e propriedades, além de outros desejos que pareciam não ter fim. Até que ocorreu uma implosão dela sentimental que levou Fernando ao desespero, resultando em muitos conflitos, inclusive com tiros e ataques furiosos, noticiados na época, transformando-se em caso policial.

Patrimônio gigantesco – A paixão de Fernando por Lena se tornou ainda maior. Todo e qualquer desejo dela era prontamente atendido, custasse o que custasse. Ela passou a ter o controle direto das decisões de Fernando, criando uma muralha que o tornou inacessível, inclusive aos próprios familiares. O PROCESSO Nº: 0815911-71.2020.4.05.8300, da 4ª Vara Federal de Pernambuco, revela as entranhas de como Lena construiu um “império” dentro do “império”, com ganhos financeiros fabulosos e a construção de um patrimônio gigantesco.

O poder do Frei – Lena não se contenta apenas em agir como “imperadora” no seio da família. Passa, mais do que se possa imaginar, a atuar no mundo da música, a exemplo da especial parceria com o frei Damião Silva, transformando-se em promotora de música religiosa. Até hoje se fala sobre essa parceria musical e altamente religiosa, que rendeu muitos frutos em todos os campos ao conselheiro espiritual da família, sobretudo no campo econômico.

Acabou isolado – Pouco a pouco, o famoso Doutor Fernando, como todos os governadores o tratavam em arroubos de bajulação, foi sendo isolado dos antigos amigos e preso pela fúria da sua nova paixão, que praticamente só deixava o marido conviver com a família Neves Baptista. No limite, Fernando se tornou duas pessoas numa só, ele e Lena foram se confundindo como entidade única. O que foi se expandindo com a fusão e confusão dos filhos de Lena que passaram também a serem extensões operacionais do “novo” Fernando.

CURTAS

QUEBROU – A operação da Polícia Federal, resultado da atuação do Ministério Público Federal ao lado da Justiça Federal, levou o casal a uma situação dramática. O que vazou é que eles não têm mais dinheiro nem nas contas bancárias, nem escondido nas diversas mansões. Não possuem joias, antiguidades e pinturas que poderiam ser vendidos. Nem tem mais os helicópteros, aviões, carrões e lanchas. Como vão pagar seus hábitos e gastos monumentais? O que se fala é que agora Fernando vai depender da família de Lena até mesmo para poder se alimentar e se locomover. Que terrível ironia do destino!

CHOCANTES – Recebi, nos últimos dias, incontáveis mensagens relatando situações chocantes quanto ao comportamento de Fernando Santos. Lamentamos ter que fazer esses terríveis relatos, mas é parte do nosso ofício levar os casos como eles são. Mas evitamos noticiar as partes que são degradantes do ponto de vista moral sobre determinados comportamentos íntimos dos personagens desse episódio deprimente. Recebemos, inclusive, notícias de violências inaceitáveis que foram praticadas.

Perguntar não ofende: Cadê a solidariedade dos políticos ao então poderoso e agora em baixa Fernando Santos?

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